Toda operação de cadeia de suprimentos tem um gargalo. Não é algo opcional, ele existe e se você não sabe qual é, então não sabe a capacidade da sua operação. Ele pode ser a capacidade de uma máquina em uma linha de produção, a quantidade de veículos, o tamanho do armazém, ou até a quantidade de equipamento de movimentação. Ele difere em cada operação, mas não é difícil identificar qual é.

Imaginemos uma linha de produção simples: temos um descascador de batatas, uma fritadora e por último uma secadora. Não dá para fritar a batata sem descascar, nem secar sem fritar. Temos que fazer nesta ordem. As máquinas têm as seguintes capacidades, descascadora 30 unidades por hora, fritar 20 unidades por hora e secar 40 unidades por hora.

Como o processo é sequencial, não dá para saltar algum deles, a capacidade produtiva máxima é de 20 batatas por hora, descascadas, fritas e secas. Não importa quantas serão secas ou descascadas a mais do que fritas. O gargalo sempre será a fritadeira.

Isso não quer dizer que seja um coisa ruim, pelo contrário, essa pequena linha de produção tem capacidade de atender uma quantidade definida. Toda linha de produção é assim, e todo processo logístico é assim também.

O gargalo tem que ser a máquina, equipamento ou processo mais caro do seu sistema. Vamos imaginar uma operação de distribuição fictícia. Onde temos três etapas, empilhadeiras que separam os pedidos, embaladores que preparam os pedidos e caminhões que fazem as entregas. As capacidades e custos estão na tabela 1. Esta empresa prepara e entrega 20 mil pedidos por mês.

 

Tabela 1 – Custos e Capacidades

Como resultado vamos precisar de uma empilhadeira, quatro empacotadores e dois caminhões. Assim vamos conseguir atender toda a demanda.

Tabela 2 – Quantidade de recursos e custo total

O gargalo desse sistema, o caminhão e seus motoristas, representa a maior parte do custo, e mesmo que adicionemos mais empilhadeiras e empacotadores, elas sozinhas não aumentam a capacidade do sistema.

O gráfico ao lado dá uma boa idéia de como o gargalo “segura” a capacidade de todo o sistema.

Se nesse sistema a demanda passar das atuais 20.000 unidades mês novos recursos precisarão ser adicionados. E neste caso será importe compreender que o custo subirá em degraus para atender esta demanda adicional.

A figura 2 mostra dois incrementos abruptos de custo, que são ao passar de 10.000 para 12.000 unidades ao mês e depois de 20.000 para 22.000. Estes são os momentos em que o gargalo é incrementado, ou seja, são colocados mais caminhões. É importante perceber que o custo para cada unidade também sobe.

Figura 2 – Formação de custos de degraus

Os gargalos não se aplicam somente a capacidade mensal, mas também na capacidade diária de entrega. Suponhamos que este sistema de distribuição opera 20 dias ao mês. Como sua capacidade é de 20.000 unidades, ele tem uma capacidade de entrega de 1.000 unidades por dia. Assim não é possível entregar 800 unidades em um dia e tentar compensar entregando 1.200 no dia seguinte. Por este motivo os departamentos internos de logística e produção tanto pedem para ter uma demanda estável e previsível, mas sabemos que o mundo real não é assim.

As soluções para não ter gargalos fixos passa muitas vezes pela terceirização. Enquanto uma empresa que tem seu armazém, funcionários de armazém e equipe de entregas próprio, tem o custo fixo dessa operação, vendendo ou não, quem utiliza uma estrutura terceirizada em geral paga proporcionalmente ao utilizado e nos momentos de pico pode contar com capacidade extra de seus contratados.

No exemplo anterior usamos como exemplo de gargalo os veículos de entrega. Mas um gargalo muito mais “rígido” ou difícil de ser ampliado sem um operador logístico é o armazenamento. Pois a capacidade interna de armazenagem é muito complexa de se incrementar e em geral demanda obra civil, que dificulta em muito a sua implementação.

Para compreender um pouco mais de como calcular seu custo de logística própria de armazenagem, baixe a planilha da EstruturARM no link: www.estruturarm.com/planilha-custeio-de-armazenagem, lá também é possível encontrar a planilha de cálculo de custo de transporte: www.estruturarm.com/planilha-custeio-de-transporte . Lembrando que ambos os modelos são para operações próprias, não terceirizadas.

Este artigo foi escrito por Rafael Sesto, diretor da EstruturARM, mestre em logística pela PUC-Rio e professor universitário.

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